Histórias de luta: vidas dedicadas ao serviço público

A multidão permanecia próxima para enfrentar o frio. Via-se no semblante das pessoas as marcas de uma vida de luta. Uma vida dedicada ao serviço público. Nos olhos confundiam-se os sentimentos. Ora de tristeza. Ora de raiva. Ora de esperança. O coro não desafinava. “Pagamento de precatório já”, pediam os mais de 500 servidores que estiveram presentes no Largo de São Francisco, centro da capital.

Unidos por um ideal, servidores públicos, na maioria aposentados, lotaram o Largo de São Francisco, no dia 28 de novembro, para protestar contra o calote oficial. Vindos de todas as partes do Estado, eles deixaram de lado as adversidades para mostrar seu descontentamento com os atuais governantes de São Paulo. Distância, transporte precário, falta de dinheiro e problemas de saúde não calaram a voz de centenas de servidores públicos presentes.

A PALAVRA DOS SERVIDORES

Osmar de Oliveira Dorta

“Sou de Bauru, andei 340 km para poder acompanhar a manifestação”, conta Osmar de Oliveira Dorta, 68 anos, professor aposentado. São doze anos aguardando o dinheiro de seu precatório. “É evidente que eu precisei desse dinheiro durante esses longos anos de espera”, afirma Dorta. “Corri risco de vida durante todo esse período. Na minha idade é necessário muito dinheiro para comprar remédios”. O apego a profissão – professor – e a dedicação com que prestou serviços ao Estado de São Paulo são motivos de orgulho para Dorta. Ele, contudo, se revolta ao falar do desprezo com que é tratado pelo Estado. “É incompreensível que uma situação dessa aconteça”.

Antônio Pattaro Filho

Aos 70 anos de idade, o professor aposentado Antônio Pattaro Filho (foto) não suportou a emoção que envolvia o ato e chorou. Seu choro representava a indignação de quem prestou serviços por mais de 40 ao Estado de São Paulo e fora esquecido por ele. Como Osmar de Oliveira Dorta, Pattaro veio de Bauru. “Isso é uma injustiça, uma grande injustiça contra a sociedade civil, uma injustiça contra o povo em geral”, disse ele. “Não estão cuidando do povo, não estão cuidando do bem comum”.

Edith de Andrade

Desde 1994 a professora aposentada Edith de Andrade espera receber o dinheiro que lhe é devido pela prefeitura de São Paulo. “Estou cheia de dívidas. Este dinheiro me seria muito útil”, conta ela. “Este ato busca resgatar um direito que nós temos, já que todos ganhamos na Justiça”, afirma Edith. “É uma demonstração de indignação”. Para ela, o ato público contra o calote oficial é uma resposta ao Governo estadual, que promove uma campanha de desvalorização dos servidores junto à sociedade. “Todos os funcionários públicos são vistos como maus elementos, o que não é verdade. Dedicamos nossa vida ao serviço público”.

Claudina Ceciliato Vasques

A professora aposentada Claudina Ceciliato Vasques é obrigada a exercer outra atividade, já que a aposentadoria não é suficiente para cobrir seus gastos. “Sou do interior, vim para São Paulo, deixei meus filhos pequenos para poder abraçar essa carreira que eu acho muito digna, que é a de professor”. “O salário é muito defasado. O Governo deveria ter um pouco mais de consideração com a nossa classe que batalhou tanto”, pediu ela. Há dez anos Claudina espera receber o dinheiro de seu precatório alimentar. “Nós já passamos, mas não morremos. Quero ter um pouquinho de prazer nessa vida ainda”.

Nair Moro

“Se ele é nosso, nos é devido, ele tem que ser ressarcido”, cobrou a professora aposentada Nair Moro, representante da APAMPESP, Associação dos Professores Aposentados do Magistério Público do Estado de São Paulo. Para ela, que espera receber seu precatório desde 1994, essa luta não se restringe ao pagamento do precatório alimentar mas também reivindica tratamento adequado aos aposentados. “Nós, aposentados, somos sempre os últimos a serem considerados pelo Estado”. Nair ressalta que, dentre os colegas, seu precatório é um dos mais novos. “Todos os meus colegas tem precatórios de 87, 93 e assim por diante. O meu é de 94. Se eles até agora não receberam, quando será que receberei o meu?”.

Amazílio Abrão

Aos 68 anos o supervisor de ensino Amazílio Abrão (no centro da foto) continua prestando serviços para o Estado de São Paulo. Veio de Osasco, cidade onde mora, para unir-se aos outros servidores na luta pelo pagamento do precatório alimentar. “Este movimento por si só mantém sua vida. Vamos estar juntos, não só os aposentados, mas também nós que somos da ativa não vamos arredar o pé”. “Não quero receber esse dinheiro lá no cemitério”, disse Abrão, que é cliente da Advocacia Sandoval Filho. Segundo ele já faz mais de 25 anos que espera receber alguns de seus precatórios. “Ao receber esse dinheiro, tenho tanto compromisso para honrar que eu não sei o que faria”.

Salim Abdo

“Depois de mais de 40 anos trabalhando para o Estado, eu cumpri o meu dever, não é fácil ser diretor de escola”, conta Salim Abdo, diretor de escola aposentado. Abdo, que espera há mais de 10 anos receber alguns de seus precatório, disse sonhar com esse dinheiro para poder realizar o sonho de seu filho, que é agrônomo. “Se recebesse meus precatórios poderia comprar o sítio com que meu filho sempre sonhou”. “Eles são caloteiros!”, continua ele. Abdo diz nunca ter visto um governo fazer em benefício do povo. “Tudo o que eles fazem é contra a gente”. Para ele, a manifestação do dia 28 de novembro serviu como alerta para a sociedade civil brasileira e internacional. “Todos precisam saber o que realmente acontece aqui neste Estado”.

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